quinta-feira, 31 de março de 2011

Pseudo-xantoma elástico

 
Aspectos clínicos e macroscopia

O pseudo-xantoma elástico é uma desordem do tecido conectivo que cursa com calcificação das fibras elásticas na pele, olhos e sistema cardiovascular, ocorrendo mais comumente na segunda década de vida. Macroscopicamente exibe pápulas amareladas com predileção para áreas de flexura; a pele se torna mais rugosa e espessa. Pode também ocorrer calcificação das fibras elásticas das artérias e fibroelastose cardíaca. Pode ser herdada ou adquirida. Na forma adquirida, mutíparas negras, obesos e expostos a nitrato de cálcio e amônio tem maior chance de risco.

Microscopia

         Fibras curtas, espiraladas, basófilas na derme reticular. São coradas em preto pelo método de VonKossa.



Foto 1-2 - coloração de Von Kossa com fibras coradas em preto.


Referências bibliográficas:
Weedon, D, Strutton, G. Disorders of elastic tissue. Skin Pathology. 2ª edição. China:  Elsevier; 2002. p. 387-388.

Autores:

Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP (2011)

Felipe Lellis Valeri – R3 da Patologia do HCFMRP-USP (2011)

Fotos e edição:

Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP (2011)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Âmnio nodoso

O âmnio nodoso é descrito como a formação de pequenos e múltiplos nódulos na face fetal da placenta. É associado com oligodrâmnio e é um achado comum nas gestações em cujos fetos apresentam agenesia renal e obstrução congênita do trato urinário. Entretanto também pode ser encontrada em gestações normais. Os nódulos costumam aparecer próximo ao cordão, mas também podem ocorrer no âmnio que não recobre a placenta ou mesmo no cordão umbilical. Medem de 1-5 mm , variam de brancacentos a amarelados e podem ser facilmente destacados, ás vezes se unem e formam placas.

É constituído por material eosinofílico que pode estar arranjado em bandas fibrilares, contendo também células, restos de células e fragmentos de cabelo. O material é PAS e Alcian blue positivo.

Muito já se discutiu a respeito da origem do âmnio nodoso. Alguns autores defendem que seja originado de: material necrótico, verniz caseoso, camadas de tonofilamentos resultante da destruição da epiderme do feto, material da cavidade oral ou do trato urinário. De fato é um sinal claro de que provavelmente o feto tem oligodrâmnio devendo-se proceder a investigação no recém-nascido para anomalias do desenvolvimento do trato urinário.







 


Foto 1 - Placenta exibindo múltiplos pequenos nódulos no âmnio.
Foto 2-6 - Observar corte histológico no âmnio que reveste a face fetal da placenta. PAS sem diastase (foto 3) e PAS com diastase (foto 4). Apresenta material eosinofílico, com células e restos celulares.




Foto 7  -  Rins displásicos e policísticos de feto com âmnio nodoso.


Referências Bibliográficas


Fox, H, Sebire, N. Pathology of the membranas. Pathology of the Placenta. 3. edição. China:  Elsevier; 2007. p. 513-515.


Autor:

Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP (2011)

Fotos e edição:

Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP (2011)


sábado, 26 de março de 2011

Pré-eclâmpsia


         Epidemiologia e Achados Clínicos.
A pré-eclâmpsia é o desenvolvimento de hipertensão e proteinúria em decorrência da gestação ou por influência de gestação recente e tende a ocorrer após a 20ª semana de gestação, mas pode surgir antes disso quando existir doença trofoblástica.  A pré-eclâmpsia atinge entre 3,64% a 10% das mulheres grávidas, sendo a principal causa de mortalidade materna no Brasil e no mundo. Pode evoluir para formas mais graves como eclâmpsia, síndrome HELLP (haemolysis, elevated liver enzyme activity, low platelets).
O aumento da pressão arterial na gravidez pode resultar em maior risco para prematuridade, fetos pequenos para a idade gestacional, infecção neonatal e hipóxia . A hipertensão é definida como pressão sistólica ≥ 140mmHg e pressão diastólica ≥ 90mmHg. O padrão-ouro para detectar a proteinúria é a urina de 24h, que é confirmada com a presença de 300mg/24h de proteínas. O edema pode ou não estar presente, sendo retirado da tríade clássica sintomática da pré-eclâmpsia.

Microscopia. Entre as alterações morfológicas placentárias das gestações que cursam com pré-eclâmpsia estão: infarto aumenta de nós sinciciais, aterose das artérias espiraladas, arteriolopatia decidual, hipotrofia vilositária, espessamento da membrana basal trofoblástica e deposição de material fibrinóide.
O material fibrinóide placentário é uma susbtância hialina, homogênea que se cora em vermelho pela eosina. É comum utilizar o termo fibrina e fibrinóide como sinônimos. No entanto, alguns especialistas preferem o termo fibrinóide por ser um termo mais abrangente e restringem o termo fibrina aos precipitados de fibrinogênio no sangue e fluidos teciduais.
 A formação fibrinóide não está restrita a processos patológicos e ocorre em placentas normais, principalmente no terceiro trimestre. Por este motivo há discordância na literatura concernente se há aumento ou não do material fibrinóide em gestações de pré-eclâmpsia. Na placenta está presente em diferentes locais: placa coriônica, perivilositariamente, intravilositariamente e na placa basal; recebendo diferentes epônimos de acordo com a localização (estria de Langhans, estria de Rohr, estria de Nitabuch).






Na figura 1 observar área de infarto placentário. Na segunda imagem observar corte em HE, vilos e deposição de material fibrinóide perivilositário em gestação com pré-eclâmpsia além de excesso de nós sinciciais.

           Macroscopia. Placentas de gestações com pré-eclâmpsia são ligeiramente menores que as normais. As lesões mais óbvias são os infartos, representando necrose do tecido vilositário. Na pré-eclâmpsia tendem a ocorrer em porções centrais, distribuídos randomicamente. Os infartos são inicialmente avermelhados, consistência firme e se tornam com o tempo amarelados progredindo para coloração cinzenta e branca. A pré-eclâmpsia é conhecido fator de risco para descolamento de placenta e hematomas retroplacentários.


Autor:
Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP

 Fotos e edição:
Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP

Referências Bibliográficas

Kaufmann P, Huppertz B, Frank, H-G. The fibrinoids of the human placenta: origin, composition and functional relevance. Ann Anat. 1996;178:485-501.
Fox H, Sebire N. Pathology of the Placenta. 3th ed. China: Elsevier; 2007.
Benirsche K, Kaufmann P. Pathology of the Human Placenta. 3th ed. New York: Springer-Verlag; 1995.

Souza DA, Bezerra AFS, Wanderley DC, Souto CMB. Aumento no material fibrinóide perivilositário nas placentas de gestações com pré-eclâmpsia. JBPML. 2011;47(1).

Adenocarcinoma ductal do pâncreas

Epidemiologia, Patogenia e Achados Clínicos
O adenocarcinoma ductal do pâncreas é a 4ª principal causa de morte por câncer no EUA. Estima-se que sua prevalência varie entre 3,1-20,8/100.000 e apresenta pico na sexta e sétima década de vida. São fatores de risco: tabagismo, dieta rica em lípides, pancreatite crônica, cor negra, diabetes mellitus. Os casos familiares são raros, nestes foram observadas mutações em 20% dos casos no BRCA2.
A sobrevida em 5 anos é de menos de 5%. Em 60% dos casos estão localizados na cabeça, 15% no corpo, 5% na cauda e 20% são encontrados difusamente no pâncreas. A dor é resultante da infiltração de nervos no tecido retroperitoneal. Quando acomete a cabeça de pâncreas tendem a obstruir o colédoco gerando icterícia com aumento de bilirrubina direta e dilatação de vias biliares extra-hepáticas. Tendem a invadir o baço, adrenal esquerda, coluna vertebral, estômago e colón transverso. Linfonodos peripancreáticos, mesentéricos, omentais e porto-hepáticos são frequentemente comprometidos. Metástases à distância podem ocorrer principalmente em pulmões e ossos.

Macroscopia
Massa sólida, pouco demarcada, dura, de coloração variando de branco-amarelada à cinza, usualmente com 2-5 cm de diâmetro.

Microscopia
Os tumores que são bem ou moderadamente diferenciados consistem em estruturas semelhantes a ductos formadas por células colunares secretoras de muco, delineadas por uma única camada de células, variando em altura e mostrando projeções papilares. Podem também se apresentar com ducto enlanguescido, estruturas micropapilares e células claras. O crescimento é associado com reação desmoplásica e as células apresentam nucléolo evidente. A obstrução tende a gerar pancreatite crônica no tecido peritumoral.
As neoplasias intra-epiteliais pancreáticas (NiPans) são subdivididas em três categorias:
NiPan 1A - células colunares altas, núcleo localizado basalmente, mucina abundante apicalmente.
NiPan 1B – lesões apresentam arquitetura papilar, micropapilar ou pseudo-estratificada, no restante é igual ao NiPan 1.
NiPan 2 – exibem lesões que podem ser planas, mas tendem a ser mais papilares. Essas lesões demonstram anormalidades nucleares, porém menores das que as vistas no NiPan 3.
NiPan 3 – atipia celular severa, as lesões se assemelham ao carcinoma, mas sem rompimento da membrana basal.
Na imunohistoquímica são positivos para CK7,8,18,19, antígeno da membrana epitelial (EMA), CEA 19-9, DUPAN-2 e ocasionalmente para MUC1.



Figura 1 – Estrutura do carcinoma ductal (HE, 200x)

Figura 2 – Neoplasia intra epitelial pancreática 3 (NiPan 3).  Observar atipia celular severa com aumento da proporção núcleo/citoplasma, nucléolos evidentes, formação de estruturas papilares.
Figura 3 - Detalhe de NiPan 3.
Figura 4 - Células de carcinoma ductal invasor, observar presença de algumas células multinucleadas.
Figura 5 e 6 – Estroma do carcinoma ductal invasor com células atípicas em meio desmoplásico








Diagnóstico diferencial

O principal diagnóstico diferencial é feito com a pancreatite crônica. Outras variantes do adenocarcinoma ductal incluem: carcinoma adenoescamoso, carcinoma indiferenciado, carcinoma indiferenciado com células gigantes semelhante à osteoclastos.



Figura 7 - 
TC de Abdômen evidenciando massa em topografia pancreática correspondente ao adenocarcinoma ductal e com conseqüente obstrução de colédoco.



Autores:
Paulo Bittencourt de Miranda – R3 da Patologia do HCFMRP-USP
Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP
Fotos e edição:
Diego Agra de Souza – R1 da Patologia do HCFMRP-USP
Referências Bibliográficas
Kumar V, Abbas AK, Fausto N, Mitchel RN.  Robbins Patologia Básica. 8ª Edição. Rio de Janeiro; 2008. 
Klöppel G, Klimstra DS. Tumors of the exocrine pancreas. In: Fletcher CDM, editor. Diagnostic Histopathology of Tumors. China: Elsevier; 2007. p. 463-470.